Obrigada

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terça-feira, 20 de março de 2012

Perfume da Rosa

Perfume da RosaQuem bebe, rosa, o perfume Que de teu seio respira? Um anjo, um silfo? ou que nume Com esse aroma delira? Qual é o deus que, namorado, De seu trono te ajoelha, E esse néctar encantado Bebe oculto, humilde abelha? - Ninguém? - Mentiste: essa frente Em languidez inclinada, Quem ta pôs assim pendente? Dize, rosa namorada. E a cor de púrpura viva Como assim te desmaiou? e essa palidez lasciva Nas folhas quem ta pintou? Os espinhos que tão duros Tinhas na rama lustrosa, Com que magos esconjuros Tos desarmam, ó rosa? E porquê, na hástea sentida Tremes tanto ao pôr do sol? Porque escutas tão rendida O canto do rouxinol? Que eu não ouvi um suspiro Sussurrar-te na folhagem? Nas águas desse retiro Não espreitei a tua imagem? Não a vi aflita, ansiada... - Era de prazer ou dor? - Mentiste, rosa, és amada, E também tu amas, flor. Mas ai! se não for um nume O que em teu seio delira, Há-de matá-lo o perfume Que nesse aroma respira. Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'

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